Dois pesos e duas medidas

Sobre as licenciaturas que já referi aqui, o que me comicha em relação às minhas colegas de trabalho é exactamente isso, terem dois pesos e duas medidas.
O coitadinhos dos meus filhos/as que estudaram tanto e agora são tão mal pagos, e licenciados e com tão boas notas e tão inteligentes. E coitadinhos daqueles que têm de sair do pais que não lhes dá trabalho, não lhes quer pagar como licenciados, quer que trabalhem de graça. Ai coitadinhos dos nossos colegas que estão a estudar, ai estudem mas emigrem que aqui vão trabalhar de graça.
E depois vem a versão se me põem aqui um licenciado, eu digo logo que não sei e mando-o trabalhar. Não estou para isto, estou cá há muitos anos e eu tenho um curso de formação e eu é que sei. Digo logo que não sei ler. E outras que tais.
A mim, não me chateia nem me atinge. Sou licenciada sim, saiu-me do pêlo, fui com muito orgulho trabalhadora/estudante, a pós-graduação na mesma e com o meu filho na barriga. Não mereço mais nem menos por isso. A mim, chateia-me estas duas medidas, que se os "licenciados" delas forem para outro lado está tudo bem, mas se vierem para cá outros é porque têm a mania que são doutores e sabem muito.
Convenhamos que sim, muitos têm essa mania. As faculdades enchem as cabeças e muitas vezes não dão a realidade das coisas, por isso acho que os estágios são importantes para conhecer algumas das realidades.
Mas porque é que não se preocupam mais com aqueles que têm de desistir do seu sonho porque não podem pagar propinas? Porque nem todos podem ser doutores não é resposta, é que bem vistas as coisas, qual é a escola que oferece um curso profissional, ou técnico-profissional acreditado que seja uma mais valia no curriculo?
Se se põem com conversas enviesadas a ver se me chegam têm de conversar mais. A licenciatura e a pós-graduação não foram tiradas na farinha amparo, não me foram oferecidas pelo Pai Natal. Fui eu que as paguei com o meu ordenado porque a minha mãe não podia suportar os custos.
Tive sorte de o poder fazer sim, mas também penei para tal. Por isso, continuo a acreditar que o saber não ocupa lugar, que se me interessar e tiver oportunidade irei tentar frequentar mais cursos de formação, que ainda não aprendi tudo, que não sei tudo e que se algum licenciado fresquinho aparecer aqui com ideias novas, ele que as exponha e depois veremos se são viáveis ou não.
E não é uma visão romântica da coisa. É uma visão de quem gosta e quer aprender mais e já aprendi que às vezes aprendemos mais com as pessoas e os seus saberes do que com os livros.
Ah, e já agora, não dêem bitates sobre assuntos que não lhes dizem respeito. Ficavam melhor na foto da sabedoria.