Deves ter a mania deves

Tenho, tenho a mania.
Tenho a mania de ver o bom nas pessoas. Tenho a mania que elas afinal estavam só a passar um mau bocado, dia, momento, semana, mês.
Tenho a mania de acreditar naquilo que dizem. De acreditar que não estão mentir, que não estão a fazer-se de sonsos, que não me querem espetar a faca nas costas.
Tenho a mania de medir os outros por mim.
Tenho a mania de dar uma 2ª, 3ª, 4ª, 5ª oportunidade e mesmo assim pensar que talvez seja melhor dar uma 6ª não fosse essa a necessária para aquela pessoa. Tenho a mania que sou a salvadora da pátria.
Tenho a mania de dizer sim quando devia dizer não.
Tenho a mania de pensar que até estou a ser egoista quando recuso, quando digo chega.
Tenho a mania de gostar dos outros, de querer ter e manter amigos, de querer ser boa pessoa.
Tenho a mania que a vida depois recompensa.
O problema?
É que as pessoas não estou nem aí para a minha mania. Não querem saber, sou apenas mais uma grandessíssima otária a quem com falinhas mansas, olhinhos doces e vozinha de choro dão avolta. É que nem é preciso tanto.
E depois, depois quando eu dou um murro na mesa, me revolto, mando tudo para aquele lado tenho a mania.
A mania que sou boa. Que sei fazer tudo sozinha. Que não preciso de ninguém. Que sou muito inteligente.
Tenho pena que não tenham a mania de olhar para mim como gente. Que não sejam capazes de pensar em mim a não ser quando precisam de algo que não lhes apetece fazer.
Tenho pena que não tenham a mania me me incluírem a não ser naquilo que lhes dá jeito.
Tenho pena que não tenham a mania de pensar que quando eu abro o coração (e faço-o tantas vezes) se calhar é porque gosto delas.
Tenho pena que não tenham  a mania de acreditar e fazer-me acreditar que tudo aquilo que me fazem, dão, tenho é uma benesse tendo em conta a pessoa com manias que sou.
Estou cansada de pensarem que tenho a mania que anda o mundo com a teoria da conspiração contra mim.
Estou cansada de me dar e dar e dar sem receber, ou melhor receber o proverbial pontapé no traseiro.
Tenho de começar a ter a mania de não acreditar em ninguém. De duvidar de tudo e de todos. De pensar em mim e nos meus filhos primeiro. O resto que se lixe.
Vivemos no mundo das tecnologias, do esconder por detrás do computador. Mas memso assim é tão fácil descobrir, às vezes por acaso, outras procurando um bocadinho.
Gostava que não tivessem a mania de me considerar assim tão burra. Não sou O cérebro, sou UMA PESSOA. Essa é a minha mania.